Wednesday, February 24, 2010

Debriefing (escrito em 09-fev-2010)

Neste momento estou voando para o Brasil. Para mim, pelo menos de uma forma mais ativa, a missão no Haiti acabou. Continuo pensando que o Haiti está para lá de ferrado e que vai demorar muito, mas muito tempo mesmo para que a casa volte a ficar em ordem por lá. Como falei meu sentimento para com os haitianos passa rapidamente da pena à raiva; não suporto ver a falta de união deles num momento desses. Por outro lado eles podem ter endurecido ao longo de sua história para serem assim tão egoístas.

De minha parte eu embruteci. Ficar duas semanas vivendo em meio à poeira, trabalhando no sol e calor, com madrugadas frias na barraca, banhos frios etc. Fiquei mais duro na queda, menos fresco para usar um português mais corrente.

Não fui para o lugar onde houve a maioria dos estragos; minha presença lá era simplesmente desnecessária, a não ser que eu quisesse fazer algum tipo de turismo mórbido. E sei que tinha muita ONG oba-oba que estava lá mais ou menos para isso. Eu sou da turma dos bastidores, minha especialidade é telecom. Eu dou as condições para que essas pessoas possam ir a campo com um minimo de segurança. Ou seja se eles são os atores principais eu sou o contra-regra(??).

Mas, um dia, uma enfermeira do "MEdicins du Monde" sabendo que eu estava lá para telecom me disse o quão me trabalho era importante para eles. Nesse momento eu tive consciência do quão meu trabalho era útil e necessário ali.

Falando do futuro próximo do Haiti eu digo que não é nada promissor. Segundo um dos oficiais de segurança da ONU, a tensão só está crescendo no Haiti devido à demora no envio de alimentos. Ainda não há energia de noite nas ruas de Porto Príncipe e os bandidos que fugiram da prisão estão fazendo a festa. Para completar a estação chuvosa está começando. Daí as doenças vão aumentar, os corpos apodrecen do debaixo dos escombros vão literalmente aflorar, as estradas danificadas vão desaparecer, mais prédios vão cair... e o mundo já começou a perder o interese na tragédia Haitiana. Dá para perceber na cantina da LogBase. As filas diminuíram muito desde o dia 23 de janeiro quando lá cheguei. A UNICEF, o WFO e mais alguns órgãos da ONU vão ficar lá por um tempo ainda.

Mas é hora de pensar num Haiti que possa andar com suas próprias pernas e não depender da ONU.

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